quinta-feira, outubro 26, 2006

Cuidado! Estou gostando.

Mais uma audiência se passa, mais uma tempão de preparação, de preocupação, de stress no trânsito. Foi um tal de corre, pega criança, corre mais um pouco, pega a outra criança, almoça voando, "tchau, filhas beijo no papa, comportem-se", mais correria, avenida parada, foge pela lateral, pára no estacionamento e corre para a audiência.

Daí o mundo entra em câmara lenta, ninguém tem pressa, o juiz está atrasado. Vai demorar meia hora.

Neste momento, abaixa a cabeça, pede a Deus: "Senhor me dê calma, paciência e sabedoria. Seja feita a tua vontade Senhor, pois não tenho mais forças para aguentar sozinho."

Chegou a hora do show.

O Juiz com certeza não gostou de seu time ontem, era visível a pouca paciência. Fala com a autoridade que o cargo lhe confere, não está alí para enfeite, quer decisões e quer rápido, se for para ter briga, marque outro dia. Hoje é para acordos.

"Excelência como pode ter acordo se a situação é esta, blá, blá, blá..."

"A Sra. o que acha?"

"Ora, Excelência, a situação não é bem assim, blá, blá, blá..."

Eis que então vem a luz de esperança, num momento em que tudo parecia apenas mais do mesmo que venho enfrentando, o juiz profere a frase que me ganhou a década:

"Pelo que está escrito no documento que as partes assinaram o Sr. está certo."

"Ora Excelência, não foi este o combinado" protesta o advogado dela.

"Mas é o que foi assinado." encerra o juiz.

"Não é bem assim Excelência, veja que a frase diz..." tenta retrucar o infeliz.

"Doutor! Também sou professor de português, sei entender um texto de acordo e o que diz aqui bem claro é que o marido tem razão" corta duro o juiz já bravo.

Bem, posso ter floreado um pouco, afinal a partir desta frase tudo eram flores. Pela primeira vez em todo este embroglio senti que a razão imperava. No meio da intriga, da mentira, das falsidades, das interpretações tendenciosas a verdade triunfou.

Estou até mais leve, mais confiante, mais calmo. Foi uma meia vitória, afinal era só uma preliminar. Mas deu para ver que o jogo não está perdido, muito pelo contrário, o adversário é fraco.

O problema? É começar a gostar deste tipo de coisa. Viola todos os meus valores participar da tristeza de audiência destas, dos sentimentos negativos, das meia verdades, da briga pela briga. Sinto que no tribunal, por melhor que seja o resultado a nosso favor, uma parte da alma se perde, nossa humanidade não passa pela porta e nunca é a mesma quando saímos.

Maqs, fazer o que? Pelo menos temos a chance de nos defender e, de uma forma ou de outra, a chance da verdade triunfar é real.

Um comentário:

Anônimo disse...

"A palavra...
é inteira, é meia, é dupla, é feia, é linda, acaba, começa, machuca, conforta, traduz, confunde, confessa, oculta, junta, separa, ama, odeia, é futuro, é passado, é assim e assado.

A palavra...
engana, convence, distorce, confia, canta e encanta, sonha, se apaixona, pensa, escapa, lembra, esquece, fala, esclarece, emudece, prende, ofende, conquista, se perde.

A palavra...
é nada e tudo ao mesmo tempo e com ponto é FINAL."