segunda-feira, outubro 30, 2006

Preço do Orgulho

Nunca deixo de me espantar com o comportamento altamente previsível do ser humano. É uma daquelas coisas absolutamente inaceitáveis do ponto de vista lógico. Sabe-se que é errado, sabe-se o que é o certo mas, na hora da verdade, naquele momento de decisão tudo fica preto e só sai bobagem.

Num assunto banal ontem, numa daquelas situações onde não existe vitória ou derrota, apenas arranjos logísticos convenientes ou inconvenientes, a arrogância e o preconceito, como sempre, auxiliaram a pior decisão.

Confesso que gosto de política, participo, dou palpite, escrevo, enfim sou um sujeito mais ou menos envolvido. Voluntariamente, diga-se de passagem, nada profissional ou criminal como vimos nesta última eleição. Mas uma coisa que incomoda na política é a politização de todas as instâncias da vida. Algo que transforma qualquer evento em parte da batalha ganha-perde.

Bom foi o que aconteceu ontem, numa situação mais ou menos surpresa (pois o assunto havia sido comentado antes, sem a devida atenção do lado ouvinte), ao invés da parte prejudicada agir conforme o esperado, ao invés da parte aceitar o proposto ou procurar algum entendimento, imperou a arrogância de alguém desprevinida.

Resultado: uma decisão, claramente desfavorável, perda de tempo, correria, cansaço, fome (por impossibilitar a pausa para a refeição) e um volume de stress desnecessário. Tudo em nome da manutenção de uma posição pseudo-superior, uma "vitória" de princípios pessoais nada nobres. Sofrem os envolvidos, nada acontece ao outro.

Na sociedade medieval japonesa, tudo era válido em nome da honra, para salvar as aparências do derrotado, evitando a humiliação pública. O mesmo acontece na maioria dos casamentos desfeitos onde, para manter uma posição hipotética de vantagem, assume-se um fardo maior do que o necessário. No Japão este comportamento gerou o Sepuku ou Harakiri, cerimônia em que o suicídio é a única solução.

Num casamento desfeito, onde permanecem erguidas as espadas, é a mesma coisa, com a diferença de ambas as partes se suicidarem lentamente, ao longo de anos de batalhas infantis.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Cuidado! Estou gostando.

Mais uma audiência se passa, mais uma tempão de preparação, de preocupação, de stress no trânsito. Foi um tal de corre, pega criança, corre mais um pouco, pega a outra criança, almoça voando, "tchau, filhas beijo no papa, comportem-se", mais correria, avenida parada, foge pela lateral, pára no estacionamento e corre para a audiência.

Daí o mundo entra em câmara lenta, ninguém tem pressa, o juiz está atrasado. Vai demorar meia hora.

Neste momento, abaixa a cabeça, pede a Deus: "Senhor me dê calma, paciência e sabedoria. Seja feita a tua vontade Senhor, pois não tenho mais forças para aguentar sozinho."

Chegou a hora do show.

O Juiz com certeza não gostou de seu time ontem, era visível a pouca paciência. Fala com a autoridade que o cargo lhe confere, não está alí para enfeite, quer decisões e quer rápido, se for para ter briga, marque outro dia. Hoje é para acordos.

"Excelência como pode ter acordo se a situação é esta, blá, blá, blá..."

"A Sra. o que acha?"

"Ora, Excelência, a situação não é bem assim, blá, blá, blá..."

Eis que então vem a luz de esperança, num momento em que tudo parecia apenas mais do mesmo que venho enfrentando, o juiz profere a frase que me ganhou a década:

"Pelo que está escrito no documento que as partes assinaram o Sr. está certo."

"Ora Excelência, não foi este o combinado" protesta o advogado dela.

"Mas é o que foi assinado." encerra o juiz.

"Não é bem assim Excelência, veja que a frase diz..." tenta retrucar o infeliz.

"Doutor! Também sou professor de português, sei entender um texto de acordo e o que diz aqui bem claro é que o marido tem razão" corta duro o juiz já bravo.

Bem, posso ter floreado um pouco, afinal a partir desta frase tudo eram flores. Pela primeira vez em todo este embroglio senti que a razão imperava. No meio da intriga, da mentira, das falsidades, das interpretações tendenciosas a verdade triunfou.

Estou até mais leve, mais confiante, mais calmo. Foi uma meia vitória, afinal era só uma preliminar. Mas deu para ver que o jogo não está perdido, muito pelo contrário, o adversário é fraco.

O problema? É começar a gostar deste tipo de coisa. Viola todos os meus valores participar da tristeza de audiência destas, dos sentimentos negativos, das meia verdades, da briga pela briga. Sinto que no tribunal, por melhor que seja o resultado a nosso favor, uma parte da alma se perde, nossa humanidade não passa pela porta e nunca é a mesma quando saímos.

Maqs, fazer o que? Pelo menos temos a chance de nos defender e, de uma forma ou de outra, a chance da verdade triunfar é real.

terça-feira, outubro 24, 2006

Pequenos prazeres

Mudando um pouco o astral dos posts anteriores, bélicos demais para meu atual estado de espírito, volto à postar sobre a alegria de minha vida. O que me faz levantar da cama todos os dias, pois sei que a cor da vida só se revela em sua presença.

Claro caro(a) leitor(a), as filhotas e a namorada.

Sim este será um daqueles posts melados, destinado por um pouco de cor-de-rosa na vida de quem frequenta este blog. Afinal a vida é muito curta para se tomar vinho ruim. Chega de falar de tribunal, juiz e todas aquelas coisas negativas que rondam este ambiente.

Pois, por um mero acidente, uma daquelas coincidências, surge uma nova rotina em nossas vidas. Uma rotina que surpreendentemente passou a ser ansiosamente esperada por todos (ou seria melhor dizer todas) os envolvidos.

É fato que manobrei o que pude para buscar as crianças todos os dias na escola, afinal precisava vê-las todos os dias e esta era a única maneira. É fato que, trabalhando de dia, dando aulas à noite (como se isso não fosse trabalho também) não sobrava nem um segundinho para matar a saudade da namorada. É fato (ou benção divina) que a namorada trabalha bem no caminho entre a escola e a casa das filhotas.

Então, numa terça-feira despretenciosa (como só as terças-feiras são), consegui ver as três juntas, pegando as pequenas na escola, a namorada no trabalho, levando todas para casa (cada uma para sua, claro).

Hoje, outra terça despretenciosa, a mais velha me solta "ainda bem que é terça, é dia de buscar a namorada (não precisamos publicar nomes)", seguido do "Oba" da menor. Eis que então nasce uma rotina. Um habito. Daqueles gostosos, que todos esperamos ansiosamente, que ilumina nossa vida, aperta os laços que nos une, que lança mais uma pedra nas fundações de uma noa familia.

Às vezes tenho medo de parecer bobo, afinal são apenas algumas quadras, menos de 10 minutos juntos. Mas 10 minutos que fazem toda a diferença do mundo, que fazem a alegria de quatro pessoas.

Pode até não ser muito, mas para nós, é toda a diferença do mundo.

segunda-feira, outubro 23, 2006

A tranquilidade dos justos

Sete dias. Passaram-se sete dias desde a audiência. Uma semana digerindo o que consegui e o que poderia ter acontecido. Uma semana saboreando uma vitória justa.

E o que aprendo com isto?

Que não há mal que sempre dure. Não, isto não, isto já sabia.

Que a justiça tarda, mas não falha. Também não, pois não houve justiça, apenas um acordo comercial, onde uma parte vendeu tempo de convivência com duas crianças para a outra.

Na verdade aprendi que certas coisas devem ser feitas independente de seu efeito.

Calma caro(a) leitor(a), eu explico.

Sempre acreditei que, ao regular os dias de visitas de minhas filhotas lindas estaria acabando com as chances de acomodações. Estaria selando um conjunto de datas que a imprevisibilidade da vida inviabilizaria o cumprimento, trazendo sofrimento a todos. Acreditei que pessoas tenderiam a agir no sentido de prover o bem estar das crianças e não de acordo com interesses particulares e sombrios. Estava enganado.

Ao assinar um documento que me garante pelo menos 30% de meu tempo com minhas filhas, ganhei a paz. Não existe mais aquela aura de incerteza, a dúvida do comportamento da mãe, se irá agir racionalmente ou não, se dissipou, agora posso fazer planos e viver a vida sem assombrações ou ataques de egoísmo patológico.

Esta semana tenho nova batalha pela frente, esta por dinheiro de verdade (a outra era por dinheiro disfarçado em amor maternal). Não estou nem um pouco preocupado, pois nesta minhas filhas não poderão ser utilizadas contra mim.

Ai se soubesse de tudo que sei hoje, no dia da primeira audiência.

Ah! deixa para lá. Consertarei tudo no fórum, nesta quinta-feira.

terça-feira, outubro 17, 2006

Show me the money

Três horas e meia gastas. Uma tarde perdida, um gosto ruim na boca, inúmeras lembranças boas destruídas. Uma batalha a menos.

Em apenas três horas e meia, uma eternidade olhada de dentro do olho do furacão, foi travada a primeira e mais importante batalha. Baixas?

Poucas caro(a) leitor(a), morreram na sala de audiências, um pouco da auto-estima, um pouco do respeito pelo outro, o resto de admiração por comportamentos de outras eras. Enfim morreu aquele restinho que sobrou de sentimentos bons pelo outro, que o tempo ainda não conseguira apagar. O caminho para o desprezo e para a indiferença está aberto, nada o fechará nos próximos anos.

Qual o resumo da batalha meu velho Jeremiah, perguntam os(as) leitores(as)? Quem foi o vencedor?

Sinceramente, não acreditei haver vencedor, consegui o que queria, colocquei no papel, gastei menos do esperava. Mas fui atingido pela verdade nua e crua de uma pessoa que mercantilizou a guarda dos filhos, que foi capaz de negociar duas meninas lindas como uma mercadoria. Só faltou pedir pagamento em cheques pré-datados.

Quanto você quer pagar Papai? Fazemos qualquer negócio. Aproveita a promoção até sábado.

E assim, minhas filhas foram negociadas na bolsa, viraram mercadoria. Quanto vale um beijo? quanto vale um abraço? Quanto vale um Eu te Amo Papai?

Para mim não havia como fixar preço, para outros há tabelas de desconto e promoção.

Pior mesmo é ouvir um comentário de corredor: "Acho que podia ter recebido mais..."

Agora é torcer para que providência divina traga o castigo certo.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Nau dos insensatos?

Publiquei ontem meu primeiro post bélico, usando palavras mais pesadas trouxe aos leitores sentimentos que não deveriam mais fazer parte de minha nova vida.

Na verdade não fazem, estou ciente de que a página virada nos 15 quilômetros da corrida de São Silvestre do ano passado e as mágoas devidamente lavadas por algumas garrafas de Champagne de primeira no "Reveillon dos Esquecidos" (festa para quem foi esquecido pelos amigos em São Paulo, não por terem algum problema de memória), encerraram de vez algo que já devia ter sido encerrado há muito tempo.

Mas relacionamentos com filhos não se encerram (pelo menos para quem tem caráter), apenas são estabelecidos limites de atuação e responsabilidade.

O que realmente aconteceu foi o não estabelecimento de limites rígidos dentro de uma decisão judicial. Não por falta de conhecimento, nem por alguam pilantragem qualquer. Mas porque não acredito que a lei serve a algum interesse a não ser os daqueles que dela vivem. Decisões rígidas impedem a acomodação. Impedem a improvisação. Impedem o bom funcionamento da vida, incerta por natureza, caótica por excelência, irregular graças a Deus.

Hoje, por questões pessoais, enfrento uma batalha para violar todos meus princípios e conquistar o que é meu por direito e jamais deveria ser questionado num tribunal. Hoje começo a pagar caro por confiar no bom senso, por procurar caminhos baseados em confiança mútua, por não aceitar a tratar outra pessoa como um adversário a ser derrotado.

Hoje, com 10 meses de atraso, entro numa briga que procurei evitar por mais de um ano. O resultado eu conheço, muita chateação, muito dinheiro gasto com advogados, muito tempo perdido.

Claro que é fácil reverter tudo, basta abrir mão de valores, princípios, dinheiro, memórias, bons momentos e tantas outras coisas que fazem a vida valer a pena.

Sinceramente caro(a) leitor(a) a opção pela paz instantânea é muito pior.

domingo, outubro 15, 2006

Si vis pacen para bellum

Depois de quase um ano de trégua, parto de novo para a guerra. Pois os tambores vem soando há tempos finjo que não ouço. Provocações do inimigo não me pouparam nestes meses todos, nem a mim, nem àqueles ao meu lado. É chegada a hora de marchar.

Sinto no entanto que a vantagem me sorri, de leve ainda, meio tímida na verdade, mas sorri. Pois neste tempo em que o silêncio da armas imperava, não significou que elas não estavam prontas. A diferença é saber que muito pouco está em jogo de meu lado.

Como num intrincado jogo de xadrez, a adversária fez seus primeiros movimentos de desespero. Forçada a apresentar suas armas logo de início, sem contar com a vantagem do tempo, nem com o elemento surpresa, mostrou ter muita pólvora e nenhum chumbo. Fez barulho, não atingiu ninguém e aguarda o revide amanhã.

A diferença?

Acabou a disposição de oferecer o cessar fogo. Acabou a política de paz a qualquer custo. Acabaram as conceções inciam-se as exigências.

Como o título diz, se quiser paz, prepara para guerra. Amanhã começo a lutar pelas minhas filhotas, semana seguinte pela liberdade financeira. Depois disto, tudo mais que for necessário. Pois aquele que segue a verdade não tem porque temer.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Novos Visitantes 2

Vejo com alegria a participação de alguns dos novos visitantes, a quem me dirigi há dois Posts. A participação dos leitores num blog é fundamental para seu sucesso e importante incentivo ao autor.

Porém me preocupa o tom das mensagens recebidas, não por discordarem de mim ou dos textos. Não tenho a intenção de ser uma unanimidade. Paulo Coelho é adorado por milhões e mesmo assim nem todos acreditam que ele escreve bem.

Mas senti ter passado uma imagem negativa, a leitora lembra-me que há 14 anos atrás fiz uma declaração muito similar, senão igual, àquela sobre meu atual relacionamento. O leitor anônimo, conta sua história, solidarizando-se comigo.

Ora caríssimos, não sei quem tem razão, nem quero saber mais. A vida é muito curta para tomarmos vinho ruim. Reviver o passado não vai melhorar nada, nem mudar o que aconteceu. Vai sim, manter feridas abertas, trazer a tona mágoas que há muito já deveriam ter sido afogadas, enfim vai ocultar as coisas boas enviadas por Deus.

Tiagila, sei o que fiz 14 anos atrás, muito menos até, estava disposto a mais para falar a verdade, mas não foi possível. Graças a Deus.

Hoje olho para o futuro e gosto muito disto, não por estar ofuscado pelo brilho de uma nova paixão, mas por ter os olhos abertos pela experiência. O futuro acetinado e cor-de-rosa dos apaixonados não resiste à realidade preto-e-branco de uma visita do oficial de justiça, de uma petição mentirosa ou da restrição de visita aos filhos.

Hoje ciente do que é necessário para construir uma vida a dois, como a necesssidade de comunhão de valores e não de gostos musicais, ou do compartillhamento de responsabilidades e não dos saldos bancários, parto para minha nova chance resoluto e preparado.

Posso até errar, mas serão novos erros, não apenas uma repetição dos velhos. Conto também com minha bagagem acumulada para vê-los a ponto de poder corrigi-los, sem sucumbir a eles.

Que mais posso querer?