terça-feira, abril 25, 2006

Projetos de vida

Decidi há algum tempo estabelecer uma meta na vida. Uma vez estabelecida, esta seria minha guia, meu rumo, minha estrela de navegação.

Pensei muito, pensei profissionalmente, mas não há nada, absolutamente nada (para minha surpresa também) que eu diria hoje ser uma atividade destinada a ser minha carreira futura. Talvez escrever, algumas leitoras tem me incentivado, meus blogs tem tido boa visitação, meu início de livro já tem alguns admiradores, minha primeira aventura no teatro foi deliciosa de escrever e atuar. Mas não sei se conseguiria, ainda preciso de tempo.

Pensei emocionalmente, mas como traçar um plano para encontrar alguém, se apaixonar e reconstruir a vida? Só o fato de fazer o plano já compromete seu resultado e me parece um pouco desesperado demais. É melhor deixar o barco correr, com certeza será mais excitante e gostoso.

De repente, como muitas coisas nesta vida louca, na volta da escola, estre um abraço, um beijo e as notícias do dia, minha filha mais velha (que carinhosamente chamo de Mandioca), provavelmente motivada pelo grande número de livros que tenho espalhados pela minha vida (na cabeceira, no banheiro, no carro, no escritório, na pasta, em qualquer lugar), manifesta o desejo de ter sua própria biblioteca. Idéia amplamente apoiada, entre um pulo e outro, pela menor (a Peteleca).

Eis que nasce, do nada, o projeto da biblioteca particular Papai e Filhotas, que será oficialmente inaugurado nesta quinta-feira (dia de dormir na casa do Pap's) com o primeiro livro delas. Escolhido em conjunto por nós três e adquirido ontem, num raro momento de tempo livre.

Quinta-feira minhas princesas ganham sua primeira Bíblia (edição especial para crianças, parecendo um lindo livrinho de estórias) e iniciam seu projeto da biblioteca com o Pap's. Estamos todos excitadíssimos com a provável cerimônia de inauguração e abretura de espaço na prateleira. Mal consigo dormir de ansiedade.

Mas é isso caro(a) Leitor(a), uma histórinha boba, nascida de uma idéia boba, que vai começar aos pouquinhos, mas que iremos curtir cada compra, cada livro novo e sua leitura em conjunto, aprooximando-nos aos pouquinhos, numa rotina exclusiva nossa, que ficará em nossos corações pelo resto da vida.

Quem sabe assim, um dia, elas decidam passar mais tempo por aqui. Mas aí é planejar e sonhar demais...

sábado, abril 22, 2006

De molho novamente

Agora é oficial, estou de cama. Recuperando de uma infecção pulmonar estou confinado em casa no feriadão. Também não é nada insuportável, as crianças viajaram com a mãe, a grana estava curta para alguma aventura rodoviária (quanto mais aérea), São Paulo vazia é até silenciosa, calma, fácil de gostar.

Tiro então este tempo para algum trabalho, reduzindo a culpa pela imobilidade, e uso o resto para mim. Seja um filme, seja no orkut ou blogando aqui e nos outros blogs que tenho espalhados por aí.

Fazendo uma retrospectiva de minha vida, um fato interessante surge. Não consigo me lembrar da última vez que fiquei assim, acho que nem havia casado, é uma experiência totalmente nova.

Quer saber caro(a) leitor(a), devia acontecer mais vezes. Ora, mas é claro que sei ser perfeitamente possível ficar em casa sem fazer nada por livre e expontânea vontade. Mas sinceramente, quantas vezes você fez isto? E quando era casado(a)?

Simplesmente, numa cidade como a nossa, num ritmo de vida agitado e conturbado entre trabalho, família e casa, acabamos desviando toda nossa energia de nós mesmo, abdicamos da pessoa mais importante em nossas vidas, nós mesmos. Mesmo se você for casado(a), caro(a) leitor(a), reflita sinceramente, quanto você se dedica a si mesmo(a)? compare com o tanto que se doa ou doou, se entrega ou entregou, abdica ou abdicou em nome de seu casamento?

Quer saber de onde vem o sentimento de vazio, quando tudo acabou?

Quer saber por que nos sentimos perdidos inicialmente, eufóricos depois?

Passamos nossas vidas conjugais abrindo mão de nós mesmos, passamos a priorizar a familia em detrimento de nossas vidas, como se dependesse de nossa anulação como pessoa para que a família sobreviva.

Quando chega neste ponto, na verdade, tudo acabou há tempos. Somente o piloto automático está ligado, mantendo o avião no ar, pois o piloto já saltou e o desastre é iminente.

Claro que não sou um mestre no assunto, mas quanto mais reflito, quanto mais olho para aqueles momentos que ainda trazem as melhores memórias do meu casamento, por incrível que pareça, estou sozinho ou apenas com as crianças.

Lembro do sentimento de felicidade ao correr de manhãzinha pelas ruas de Buenos Aires em nossa última viagem, enquanto ela dormia no hotel. Lembro de ensinar sozinho minhas filhas suas primeiras tacadas de golfe e da felicidade da mais velha ao perceber que aprendera. Lembro das manhãs de verão com as duas na piscina do clube, enquanto a mãe assitia tudo (ou não) de uma mesa distante no bar.

Enfim, posso trazer vários momentos felizes, iguais ao deste feriado, sozinho fazendo o que gosto e cuidando de mim. Às vezes, olhando para trás, penso, SE nós dois tivéssemos tentado isto desde o começo, o resultado seria diferente. Mas também, SE vovó tivesse rodas seria um calhambeque.

Aprenda a cuidar de si mesmo(a), e viva feliz, acho que funciona até para os casados.

terça-feira, abril 18, 2006

Estórias

Adoro Natal, Páscoa, dia das Mães, dos Pais e das Crianças. Não por causa dos presentes, que adoro dar e receber, mas por estar em família, sair para o grande almoço e as intermináveis conversas inúteis, que estarão esquecidas antes da próxima refeição em grupo.

Nesta Páscoa, depois de um feriado em família, de um culto belíssimo na igreja e coroado com um almoço de gente grande, fui pego de surpresa pela mais velha, do alto de seus oito anos de curiosidade pura.

A pergunta relativamente simples, deu abertura a uma dissertação administrativa que testou minha capacidade de viajar na maionese, dando-me o direito ao cartão Plantinum da Hellman's Air, rendendo também muitas gargalhadas na sala dos professores.
A pergunta? ora caro leitor, minha pimpolha linda quis saber se eu acreditava em coelho da páscoa. Ante a resposta afirmativa, disparou-se a mais longa série de questionamentos operacionais sobre o processo de fabricação e distribuição de ovos e brinquedos.

A conversa durou cerca de meia hora, tempo entre o restaurante e a dolorosa tarefa de entregar minhas princesas àquela cuja meta é afastá-las de mim. Neste curto trajeto discorremos com funcionava a operação distribuição de presentes e ovos, qual o papel dos pais, o financiamento desta generosidade gratuita de Papai Noel.

Sei que me diverti, falei muita bobagem, mas o mais importante, cultivei nas minhas filhas aquela inocência que a separação estava roubando um pouquinho por dia.

Que delícia de Páscoa foi esta.

quarta-feira, abril 12, 2006

Gente de valor

Há  alguns dias reluto em entrar num assunto que me incomoda. Na verdade não só a mim, como a muitas outras pessoas com quem tenho o prazer de conviver diariamente.
Digo pessoas pois uma daquelas coincidências do destino, me fez ver que, mais uma vez, isto não é um problema isolado.

Não é em termos, pois como homem, posso me dar ao luxo de ignorar o assunto. Porém, não me considero um homem moderno em termos de comportamento "conjugal". Sou das antigas, abro porta de carro, tiro o paletó em dia de frio para proteger a companhia, tomo chuva se o guada-chuva for pequeno.

Mas em diferentes conversas, percebi que há um certo consenso na desvalorização da mulher. Calma caros(as) leitores(as), não é todos os casos, mas vejo que gente muito bonita, inteligente e sociável tem reclamado a falta de parceiros. A maior queixa é encontrar homens que só pensam na próxima conquista, como se estivessem fazendo marcas na cabeceira da cama para controlar o ritmo do "abate". Homens que desistem ao primeiro sinal de dificuldade na obtenção do objetivo principal que norteia seu comportamento ao sair com uma garota, passar a noite juntos.

Ora senhores leitores, e porque não leitoras também, será que as relações sentimentais estão reduzidas à uma noite de prazer? Será que a conquista física é realmente superior em qualidade e bem estar, sobre uma conquista amorosa? Será que devemos nos contentar em viver solitários. enquanto provamos um parceiro por noite?

Acredito que não, sinceramente acredito que o sexo é resultado de uma relação mais profunda que a camada de perfume que passamos ao sair de casa. Sexo não é nem de longe uma experiência que valha a pena ser comparada com o ato de fazer amor. Sem amor é apenas um ato mecânico que pode ser comercializado nas melhores casas noturnas de São Paulo. O livro da Bruna Surfistinha está aí para provar isto.

Sei que o homem é um ser incorrigível, que ainda sucumbe àquela parte do cérebro que carrega um tacape e veste uma pele de leopardo, mas o próprio homem não consegue mais perceber que a satisfação física imediata, contribui para o grande vazio que se forma dentro de seu peito com o passar do tempo.

Às mulheres, pouco adianta recomendar, tenho a impressão que há muito mais mulheres solteiras disponíveis do que homens. Para um professor de marketing, isto equivale a dizer que o preço de mercado está caindo porque a oferta é grande. Querem saber, já caiu, pois hoje ninguém leva flores ou chocolates, quem abre a porta é o manobrista, quem a paga a conta sem dividir é trouxa.

Estão errados? claro que sim, mas quando encontramos muitas mulheres que aceitam se sujeitar a isto, não haverá sinal de mudança no ar. Perdemos todos com isto.

Não sou dono da verdade, mas me parece que quanto mais as mulheres se desvalorizam, menos os homens estão dispostos a pagar. Caindo assim numa espiral descendente, transformando a mulher em popozuda, cachorra, bandida entre tantos outros apelidos generosos e elogiosos.

Depois não adianta reclamar que ninguém respeita ninguém.

domingo, abril 09, 2006

Quando o medo se vai

Este final de semana ficará marcado em minha vida. Tudo por uma ida ao cinema, num compromisso esperado há meses, desde que soube que o filme "V de Vingança" iria finalmente estrear. Atrasos e atrasos depois, consegui finalmente cumprir meu compromisso assumido de vê-lo assim que estreasse.

Roteiro à parte, pois é muito político e consequentemente assunto diverso do que este blog se propõe, considero-o um dos melhores filmes que já vi.

Esquecendo a estória como um todo, há um ponto que me forçou usar o lenço, sempre à mão no bolso do paletó. Pois a cena é de uma profundidade, de uma densidade, de uma beleza, que é humanamente impossível ficar imune. A descarga emocional é simplesmente surpreendente. A beleza visual e a harmonia entre os personagens e suas vozes completam um quadro simplesmente comovente.

Sem prejudicar os(as) leitores(as), pois mesmo sabendo muito sobre a cena é impossível estar preparado - acreditem, conhecia a estória de cor e fiquei abalado.

O momento em que a personagem principal descobre que o medo se foi, em que ela decide enfrentar toda e qualquer terrível consequência de seus atos serena e confiante, diposta até a encarar a morte, se fosse necessário para defender o que acreditava.

Caro leitor(a), houve em minha vida um momento assim, onde a carga emocional, onde a pressão constante, onde a irracionalidade do outro, onde a falta de caráter e ética de pessoas em quem a confiança fora depositada, foram tão grandes que me levaram a tomar aquele decisivo passo em direção ao pelotão de fuzilamento.

Foi um momento libertador, onde a falta de opção minimamente aceitável, o abuso costante de nossas melhores qualidades e intenções e a violência da falta de honestidade mostram, bem claramente, a linha que não estamos dispostos a deixar ninguém cruzar. Foi o momento em que o medo sumiu, momento em que a possibilidade de perder tudo deixa de te paralisar e passa a te empurrar para frente.

Este final de semana queridos(as) leitores(as), senti de novo o alívio da perda do medo, senti de novo o gosto da liberdade recuperada, este fim de semana, muitos anos depois, me emocionei verdadeiramente no cinema.

A mera possibilidade de voltar a sentir esta euforia que a liberdade propicia, a saída do enorme peso de cima de meu peito e a recuperação do controle sobre minha vida, foram demais. Saí do cinema abalado, mas feliz, chacoalhado mas convicto, cansado mas aliviado.

Enfim, renovei-me como homem, recuperei sentimentos que se guardaram por anos num casamento emocionalmente estéril, revivi o ponto de inflexão de minha vida, onde a trajetória de queda altera sua descida e passa a apontar para a esperança.

Querido(a) leitor(a), se posso dar um conselho é este, prepare seu coração, abra a cabeça para o filme mais impactante, emocionalmente falando, que já vi, e vá ao cinema.

Você, como eu, merece.

quinta-feira, abril 06, 2006

Memórias

Nunca é fácil esquecer certas coisas, principalmente as ruins. É como se houvesse um espaço em nossa mente para o desagradável, para o triste, para o que incomoda. Bem separado, organizado, catalogado e disponível para uso futuro.

A contrapartida não é valida, coisas boas, momentos agradáveis acabam dando espaço para as lembranças do outro grupo. Numa espécie de exercício de auto flagelação, onde gostamos mesmo de nos sentir miseráveis e sofredores.

Nestes meses venho desenvolvendo alguns trabalhos que me forçam rever, relembrar e reescrever partes de minha vida passada. Num esforço para ser imparcial, para não deixar qualquer mágoa transparecer, ou direcionar o que escrevo - seja este blog, um livro ou peça de teatro - me forço a buscar ou reinterpretar os acontecimentos por diversas óticas.

O resultado surpreendeu-me de duas formas. a primeira foi a incapacidade inicial de buscar as boas lembranças, numa impressão de que, ou vivi meseravelmente nos últimos anos sem preceber, ou simplesmente os maus momentos sempre afloram mais rápido. Chego até lembrar de um ditado escatológico popular sobre "coisas que boiam".

A segunda surpresa foi na motivação de certos atos e acontecimentos, consegui - até sem muito esforço - encontrar mais de uma explicação plausível para cada evento do processo de separação. Calma caro(a) leitor(a), não quis dizer desculpável ou coisa que o valha, estou me referindo à impossibilidade de determinar quem teria mais razão. Concluo que ambos estavam, e provavelmente continuam, errados. O acerto da decisão de separar apenas atenuou as falhas em sua realização.

Contra fatos não há argumentos, mas contra as razões que geraram estes fatos há e, na tentativa de prevenir a repetição destes erros, talvez devessemos fazer, com certa frequência, este exercício.

Afinal, compreender o outro, jamais poderá nos fazer mais mal do que deconhecê-lo.

terça-feira, abril 04, 2006

A dor do não

Os que me conhecem sabem que faço de tudo por minhas filhas. Acompanharam a difícil fase do processo judicial onde tive de, para me defender de uma situação impossível, enfrentar minhas filhas, representadas pela mãe, no tribunal.

Hoje, com a ferida curada, ainda sinto uma pontada na consciência, que minhas advogadas fazem questão de dissipar ao questionarem os desfavoráveis termos em consegui forçar o acordo. Ora, é só dinheiro, não é muito e eu daria de qualquer jeito. Já dei até mais, pois para as pequenas o limite é mais elástico.

Mas não estava preparado para tudo, nem havia passado por tudo. Deus me mandou uma última porvação, a mais difícil, a mais dolorosa, a suprema provação de minha fé e amor por minhas gatinhas.

Na última vez que as vi, reclamaram de sentirem-se meio abandonadas pela mãe que, alegando excesso de tabalho, não mais faz as refeições junto, nem ajuda nas lições, nem as pôe na cama como fazia antes. Encerraram a conversa manifestando o desejo de morar comigo.

Não que não seja meu sonho, acho que seria sua realização. Mas as atuais condições me levaram a elaborar uma maneira de chamar a atenção da mãe e auxiliá-las de forma a continuar sob sua guarda.

A dor deste momento só não foi maior do que a certeza de estar fazendo o melhor para o momento. Sentir que ali havia a mãe de todas as oportunidades, deixá-la passar e aguardar uma nova chance foi extremamente difícil. Não é uma decisão que se toma pensando em nós mesmos. É a decisão de algo maior, é a mãe que prefere entregar o próprio filho do que ver a espada de Salomão em ação.

Sei que sou um bom pai, sei agora que todo o empenho e tempo dedicado a elas, está sendo apreciado. Sei que minhas filhas estão sempre ao meu lado, seja fisicamente ou só lembrando do final do semana com o papa. Sei que, como pai, posso ser melhor que uma mãe.

Me segurem, pois se minha filha acha que consigo qualquer coisa, então lá vou eu, para o alto e avante.

domingo, abril 02, 2006

Você vê a luz? (James Brown em "Blues Brothers")

Esta semana acredito ter atingido o fundo do poço. se havia um período do ano onde tudo podia dar errado, o meu acabou de passar.

O bom destas épocas, se é que podemos falar assim, é a possibilidade de uma total inversão de valores. Vinda da reflexão profunda de momentos de extremo stress - e acredite caro(a) leitor(a), falo em stress daqueles de vida ou morte - onde certas conclusões nos atingem como raios. esta inversão de valores, nos dá outra perspectiva da vida e uma nova forma de encará-la.

Até esta semana, alguns problemas tomavam dimensões gigantescas, o relacionamento com a ex, problemas da crianças, falta de grana, seguro vencido, falta de perpectiva no tabalho e coisas do gênero.

Hoje, depois de tudo, estou mais focado, mais consciente que, apesar das crianças ainda representarem tudo na minha vida, é mais do que passada a hora de tocar a vida pensando em mim. Rever meus valores, mudar algumas metas, conciliar as responsabilidades com as necessidades. Enfim a vida tende a nos arrastar para o turbilhão de responsabilidades externas, e nós, sempre prontos a nos colocar de lado, sucumbimos a um peso que carregamos sem necesidade.

O que vou fazer daqui para frente ainda não sei, mas garanto que vou interromper de vez o ritmo alucinado que um dia iria acabar me matando. Afinal, vi que a morte pode estar rondando e não quero ver minha vez chegar e começar a me arrepender de alguma coisa. Vai ser bom para a família, para as crianças e principalmente para mim.