O maior pecado neste embroglio que foi o processo de separação, não foi sair de casa, ter itens de herança de família sequestrados, documentos desaparecidos e muito dinheiro desperdiçado. Afinal deu para viver sem ou providenciar substituições.
Pecado é não ver minhas gatinhas crescendo todo dia, perder dentinhos de leite, perder novas coisas que aprendem todo dia, ou aquelas frases espirituosas que surgem do nada.
Meio pecado na verdade, pois agora, elas cresceram, pouco mas o suficiente, o suficiente para compartilhar estas coisas comigo. Neste final de semana, mais à vontade ao ficar sozinhas com o pai e lidar com a esdrúxula situação de duas casas, elas deram show.
A menor, malandra e preguiçosa, aprendeu finalmente a andar de bicicleta, reclamou, praguejou, chutou a bicicletinha das poderosas, enfim tentou de tudo para desistir, mas ao final do dia, sob os gritos de "pedala, robinho", estava andando feliz da vida.
A mais velha decidiu no entanto me deixar de boca aberta e babando, primeiro por estar numa independência só, acordo pela manhã e a vejo tomando nota furiosamente em frente à televisão, na volta da cozinha ela me mostra o telefone e site da Polishop, onde vende uma chapinha que alisa, hidrata e desembaraça os cabelos mais revoltos sem danificá-los. No dia seguinte a mesma polishop volta em uma notinha com alguma cinta que a ajudaria esconder a barriguinha de excesso de sorvete. Hora da aula de marketing e televendas e duas das mais deliciosas horas de conversa.
À tarde na livraria Cultura, programa preferido das duas enquanto esperam o horário do cinema, vejo-a andando decidida de um lado para o outro. Na saída a supresa, um cartãozinho com o nome de uma cantora e uma música. A recomendação já dizia tudo: "pai o cd é muito caro, baixa da internet as músicas desta cantora e grava um cd para mim?"
Lágrimas de orgulho foram enxugadas imediatamente, para não me trair. Já se foram três Cd's na base do cartãozinho.
A semana estava ganha, pode levar mãe, elas também crescem com o pai, podem viajar com a avó, depois é minha vez de novo e outras coisas virão. Mas, quando tudo parecia ter passado e a semana de saudade começado, elas tinham que fechar com chave de ouro.
Domingo é dia de escola dominical na igreja, pela regra do final de semana elas faltariam esta semana, afinal a mãe já tentou de tudo para afastá-la de lá. Pena, haveria uma exposição e elas já estavam com um cartaz pronto, texto decoradinho, enfim prontas para se mostrar. Até pensei em gravá-las com a Webcam e deixar uma presença virtual, mas a idéia não vingou. Fazer o que?
E não é que elas covenceram a mãe e a avó a voltar mais cedo de viagem para poder ir à igreja. Já acertaram o horário para pegá-las e devolvê-las, tudo sozinhas.
Ninguém mais segura minhas princesas. Ainda bem...
Em setembro de 2005 me vi só. 14 anos de minha vida usurpados sem dó. Incluindo meu bem mais precioso, minhas duas filhotas. A única alternativa, lutar pelo que é meu, e escrever minha história. A do homem que recomeçou sua vida do nada, em território hostil e desconhecido. A diferença do filme com mesmo nome? Eu fiquei numa selva moderna, sem um rifle Hawkin calibre 50. Quer saber mais? Leia e particpe das estórias de Jeremiah Johnson, mas cuidado, elas podem ser iguais à sua.
3 comentários:
Que lindo esse post, me emocionei, fui separada do meu pai quando criança, agora que estamos mais próximos mas nunca será igual a ter crescido perto dele...
Parabéns, pela sua força de vontade
Oi querido...te adicionei no orkut...olha seu blog é show e seu jeito de escrever melhor ainda...eu tbém me emocionei...vc escreve muito bem....nos faz entrar na história..parabéns
JJ, hahahahahahaha .... mto bom o lance do polishop ... consigo imaginar a cena!!!!!
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