sexta-feira, março 24, 2006

Crescendo com os filhos

Em alguns momentos, menos frequentes a cada dia que passa, recordando partes de tudo o que passei durante a separação, deparo-me com situações em que uma linha invisível, aquela que separa o cidadão civilizado e educado do ogro de Cro-magnon, foi cruzada.

Costumo brincar que, nestas horas, uma pequena área do cérebro, aquela que veste uma pele de leopardo e carrega seu tacape na mão direita, toma controle do corpo, escurece a visão e faz tudo aquilo que abominaríamos se tivéssemos a mínima consciência do que está acontecendo.

Sei que o leitor ou leitora, neste momento, começa a se incomodar. Afinal todos passamos por isto e não é bom nem lembrar. Acreditem eu concordo. Toquei no assunto por dois motivos, o primeiro é exorcizar o ogro e aprender a lidar com ele. O segundo é para entender o que, pela primeira vez em minha vida, me tirou do sério daquela maneira.

Seis meses depois percebo que a mera perspectiva de passar um longo tempo sem ver minhas filhas, a tentativa da mãe de me afastar de sua educação ou aquelas pequenas picuinhas, criadas por membros da parte da família que voltou para o lado negro da força, eram o motivo.

Nestas reflexões descobri o leão que carregamos dentro de nós, descobri de onde vem a força para a superação de tudo e a vontade de lutar até o fim por algo. Nesta hora compreendemos o quanto somos capazes por um filho.

Hoje continuo com o mesmo tipo de sentimento primal, porém muito mais consciente de que posso também controla-lo. Enfim tenho passado muito mais tempo em contato com as meninas quando estamos juntos do que antes. Não digo que estou satisfeito com isto, pois nada substitui o beijo diário de bom dia ou boa noite na cama, o café da manhã juntos, ou a preguiça ao acordar de domingo.

Mas,, a verdade é que somos bem mais companheiros, conversamos mais, brincamos mais, curtimo-nos mais. Antes achava que seria minha responsabilidade o crescimento das meninas, hoje reconheço o privilégio de poder crescer junto com elas.

Talvez nunca tivesse descobrido como chegar a elas antes, talvez estivesse condenado a ser um pai mais distante por estar muito próximo. Mas o bom é ter me tornado um pai mais próximo, por estar distante.

Vai entender esta vida.

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