terça-feira, março 14, 2006

Covardia

Acho que nunca esquecerei minha audiência de separação. Apesar de todos meus esforços para apagar esta lembrança triste, persiste a sensação ruim das quase três horas de discussão inútil na frente de completos estranhos.

Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que, nos quase 14 anos de casado, nunca havia sequer levantado a voz em uma discussão. Nunca havia discutido rispidamente com minha esposa. Enfim o que tinha tudo para virar uma grande amizade, virou a versão terrena do Inferno de Dante.

O pior de tudo que ainda me lembro, é o gosto amargo da violação de nossos princípios após uma briga, o horrível sentimento de haver exposto o demônio interior, de haver cedido ao lado Negro da Força. Depois de 14 anos de cumplicidade absoluta, virava uma espécie Dart Vader doméstico, cuja presença era a inspiração do mal puro.

Mas, voltando à audiência, vi naquele momento que nada teria a menor chance de florescer ou sobreviver ao sistema. O palco estava montado para a execução do matrimônio, entre comentários sobre a reversibilidade do processo, pás e mais pás de cal pura eram jogadas na cova rasa, onde 14 anos de um relacionamento, cheios de momentos felizes e alguns tristes, seriam sepultados para sempre.

Não sei se deveria falar assim, mas alguém deveria rezar para a alma dos advogados. A insensibilidade que os guia é impressionante. Sob o estandarte da defesa incondicional do cliente, os nobres doutores vendem sua alma ao demônio, conseguem com uma frieza impressionante transformar tudo em valores monetários, conseguem ignorar os sentimentos dos clientes, os interesses e a vida futura de quem deveriam preservar e ajudar, partindo para lutas onde os únicos vencedores são os próprios defensores.

Fiz inúmeros apelos para evitar os tribunais, fiz várias tentativas de acordos e de diálogo, para a cada passo deparar-me com um advogadog que,g ao acreditar estar defendendo sua cliente, ergeu uma barreira que culminou numa briga eterna, no fim de uma amizade harmoniosa, no fim de 14 anos de relacionamento amoroso, civilizado e sincero (ao menos eu espero).

É covarde o que espera aqueles que decidem seguir rumos separados, tudo no caminho conspira contra, tudo no caminho é desenhado para o conflito, tudo no caminho é feito para realçar os defeitos e cobrir a doces recordaçoes.

É uma pena, afinal, mesmo depois deste processo doloroso, não me arrependo dos 14 anos, da dedicação, da vida em família, de haver me casado. Vou além, não culpo o casamento, culpo seu processo de dissolução e a mentalidade daqueles que deveriam conduzí-lo com extremo cuidado.

Pois tenho certeza que vou me casar de novo.

2 comentários:

Anônimo disse...

BOM DIA. Olá, Jeremiah, não sei se você vai ler este comentário, mas, não poderia deixar de escrever. ""Não sei se deveria falar assim, mas alguém deveria rezar para a alma dos advogados. A insensibilidade que os guia é impressionante."". Desculpe, mas, nem todos os advogados são iguais, pois antes de ser advogada, sou evangélica, e pode ter certeza, que antes de chegarmos a audiência de separação, foi tentado de todas as formas a reconciliação do casal, e não a separação, mas, se finalmente foi este o desejo, tentamos, fazer da melhor maneira possível, para preservarmos a amizade e o companheirismo, principalmente quando existem crianças, que foi o seu caso.
Espero que nunca mais precise utilizar os serviços de um advogado da área de família, mas se precisar, procure melhor, quem sabe você encontre uma pessoa realmente preparada, primeiro espiritualmente e depois profissionalmente.

Carl Amorim disse...

Tânia,

Sei que nem todo advogado é igual, mas também sei que, se nÃo fosse a interferência, antiética, canalha e sódida de vários (veja que falo em vários, pois mais um foi tentado) meu processo de separação não teria descambado da forma que aconteceu.

A facilidade com que estes doutores levaram a separação para um situação extrema de total falta de comunicação foi espantosa, simplesmente não conseguem ver onde o direito de seu cliente atrapalha a vida deste mesmo cliente.

A facilidade com que criam estórias, com que jogam com sentimentos e dinheiro, chantageam pais transformando a guarda dos filhos em verdadeiros sequestros, chega a enojar.

MAs nem todos são assim, claro, porém é melhor entrar com um pé atrás, pois ter fé no ser humano dentro da sala de audiência é caminhar para a própria execução.

Obrigado pelo comentário, beijos

JJ